Terceiro Domingo do Tempo Comum – 21-22/01/2023
Por Dom Luiz Carlos Dias
Uma luz brilha nas trevas e os primeiros discípulos
No Evangelho deste final de semana, a menção à prisão do Precursor silenciando a voz de João Batista, marca a passagem do Antigo ao Novo Testamento e o início das atividades missionárias de Jesus Cristo.
Para Mateus, a prisão desse profeta foi um sinal para o Filho de Deus começar a sua missão. Ele deixou Nazaré para habitar na terra de Zabulon e Neftali, tribos consideradas impuras pelos judeus, que as chamavam pejorativamente de ‘Galileia dos gentios’. Essas terras eram transpostas por importante estrada e propiciava grande fluxo de pessoas e muita interação. E, além do desprezo dos judeus, seus residentes eram subjugados pelos interesses estratégicos de exércitos e comerciantes.
Esse é o contexto apresentado pelo primeiro evangelista para ressoar o belo anúncio de Cristo, o ungido de Deus: “Convertei-vos, o Reino de Deus está próximo” (Mt 4,17). A presença de Jesus e suas palavras levou grande luz àquele povo (Mt 4,16). Em Jesus cumpria-se uma promessa de Deus a Israel, narrada na primeira leitura: “Fizeste crescer a alegria e aumentaste a felicidade” (Is 8,2).
Nesse sentido, o gesto do Filho de Deus feito homem, principia sua missão em busca dos considerados impuros, perdidos e desprezados; aponta para um traço marcante de Deus ao longo das Sagradas Escrituras e reafirma que a grande obra de Deus é converter o ser humano, pois a todos quer salvar. Na situação daquele povo, ver e sentir a misericórdia divina encarnada na pessoa daquele novo Profeta alegrou os corações quebrantados.
Os versículos do Evangelho ainda mostram que Jesus logo angariou adesões à sua proposta, como das duplas de irmãos Pedro e André, Tiago e João, os quais deixaram redes, barco e o pai, ao ouvirem o convite: “Segui-me”. Naquele instante, certamente, o amor misericordioso de Deus, na pessoa de Jesus, perpassou cada um deles com uma força irresistível. Ninguém se torna cristão ou cristã sem um encontro real com o Cristo vivo e nem adere aos seus valores.
O chamado de Jesus é permeado de um amor imenso, cada um dos escolhidos é precioso aos seus olhos, não obstante as fraquezas, pecados e até inadequações para a missão. O grupo dos discípulos contava com um cobrador de impostos e um traidor, pois o Senhor salva pela proximidade e intimidade que configura os eleitos à sua imagem e os torna Apóstolos (enviados), sobre os quais Cristo afirma: “Quem vos escuta, a mim escuta” (Lc 10,16).
Nesta Ano Vocacional celebrado pela Igreja no Brasil, recomendo às comunidades esforços e ações para os jovens se encontrarem com Jesus Cristo e seu chamado. A Diocese de São Carlos agradece a Deus pelo dom dos vocacionados, mas há Igrejas Particulares que se ressentem de vocações, a exemplo de muitas congregações religiosas. As orações sejam intensificadas e se faça ressoar o “Segue-me” proferido por Jesus.
Por fim, a segunda leitura lembra às comunidades dos batizados uma forma específica e essencial de cooperação na obra evangelizadora: “Sede bem unidos e concordes” (I Cor 1,10). A unidade é tarefa da Igreja e ao mesmo tempo sua importante missão, especialmente em tempo de fragmentação, individualismo, desinformação planejada e oposição beligerante. Não pode haver conformismo diante de tais características perniciosas ao convívio e às estruturas da sociedade.
Empenhos por gestos e fomento de convergência fazem resplandecer a luz de Cristo e atualizar o anúncio do Senhor: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo” (Mt, 4,17).
Uma abençoada celebração.
Dom Luiz Carlos Dias
Bispo da Diocese de São Carlos