No Mês da Bíblia, especialistas comentam métodos de leitura orante
Da Redação, com informações da CNBB
O mês de setembro é dedicado, na Igreja no Brasil, à Palavra de Deus. A motivação é devido a memória, no dia 30, de São Jerônimo, santo e doutor da Igreja, responsável por traduzir a Bíblia das línguas originais (grego, hebraico e aramaico) para o latim, a chamada Vulgata.
Padre Roger Araújo lembra que o mês foi escolhido não só pelo trabalho minucioso de São Jerônimo, que levou 35 anos, mas pelo amor que dedicava às Escrituras. “Ele foi o grande patrono nas Sagradas Escrituras. A tradução para o latim serviu de base para as demais traduções que temos hoje”.
O especialista em Bíblia e mestre em Ciências da Religião, Denis Duarte, lembra que a Igreja no Brasil costuma dedicar certos temas a alguns meses, como por exemplo agosto é o mês das vocações, enquanto outubro é dedicado às missões.
“A Igreja sempre elege meses dedicados a temas para nos incentivar a viver a dinâmica daquele tempo. O convite para este mês de setembro é para nos dedicarmos novamente à leitura e ao estudo da Palavra de Deus, em que o próprio Deus fala conosco”.
Quanto ao modo de se ler e estudar a Bíblia, a Igreja orienta que seja feita de forma orante. Não apenas uma literal, mas uma leitura em espírito de oração. Os Padres da Igreja desde o início propuseram a Lectio Divina como forma de leitura da Palavra. Padre Roger enfatiza que este método, se seguido, leva a muitos frutos.
“A ideia é que a leitura da Bíblia não pode ser mais leitura do que oração. Um cristão que tem a prática da leitura orante da Palavra de Deus terá uma vida cristã mais sólida, uma intimidade maior com Deus, vai enxergar o mundo à luz de Deus. Ele vai melhorando a cada dia, porque a Palavra de Deus provoca mudança de mentalidade. Um cristão só pode crescer se tem o hábito da leitura da Palavra de Deus”.
Métodos de Estudo da Bíblia
O especialista Denis Duarte explica como deve ser feita a Lectio Divina.
“Se resume em quatro pequenos degraus. O primeiro degrau é a leitura. Eu faço a leitura da melhor forma possível, tentando extrair dali tudo o que o texto diz na sua origem, o contexto histórico, as expressões bíblicas, teológicas, tudo o que eu posso apreender do texto na sua origem. Depois que eu entendi o que o texto diz na sua origem, eu posso confrontar o texto com a minha própria vida. Trazer esse texto escrito há milhares de anos para hoje. Este é o segundo degrau, o que Deus fala a mim através da meditação. O terceiro degrau é a minha resposta. Se Deus fala a mim, eu posso responder a Deus, eu faço a minha oração. E o quarto degrau é o da contemplação. Quando estou nesse momento íntimo com Deus, Ele me permite experimentar algo, é um momento sublime da oração, a experiência de intimidade com o próprio Deus”.
Com o passar do tempo, a Lectio Divina ganhou outras variações. Santos, fundadores, adaptaram o médoto original da Lectio Divina às necessidades do povo, ou de um determinado grupo, dependendo da maior facilidade ou dificuldade de se ler e rezar com a Bíblia.
“A Comunidade Shalom propõe um método que se chama ‘Luz para os meus passos’, enquanto na Canção Nova, Monsenhor Jonas Abib propôs o método ‘A Bíblia do meu Dia a Dia”, inclusive com um roteiro a ser seguido”, lembra Denis.
“Os Jesuítas têm um modo próprio de ler as Sagradas Escrituras, através do silêncio orante se rumina a Palavra. Frei Inácio Larrañaga apresentou um método através das Oficinas de Oração. Mas todos esses métodos são variações da mesma fonte, que é a Lectio Divina.”, diz padre Roger.
Estudo Bíblico e Tecnologia
Padre Roger recebeu, há dois anos, um pedido de uma senhora do interior de São Paulo, que participava das Equipes de Nossa Senhora, para enviar uma reflexão bíblica em áudio por mês. Além de atender a solicitação, o sacerdote teve a inspiração de replicar a mensagem a outros grupos e pessoas pelas redes sociais.
“Como membro da Canção Nova, sempre vivi a Lectio Divina, no método ‘A Bíblia foi escrita pra você'[mesmo método do ‘A Bíblia do meu dia a dia’]. Estamos na era das mídias sociais, as redes são lugares onde as pessoas se encontram, e a Palavra de Deus também deve ser levada lá. Comecei a enviar, muitas pessoas se juntaram a nós, e hoje mais de 20 mil pessoas fazem o Estudo Orante da Bíblia diariamente. É edificante partilharmos a Palavra de Deus pelas redes sociais.”, conta Padre Roger.
Denis Duarte conclui dizendo que os frutos que qualquer pessoa pode colher fazendo o Estudo da Palavra é saber que Deus fala: “Deus orienta. Jesus diz muito claramente ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida’ e nós precisamos conhecê-Lo para trilhar este caminho. Pela Palavra, o próprio Deus nos diz se nós estamos ou não neste caminho que é o Cristo, e como o devemos seguir.”