Diocese São Carlos fev 9, 2024

MENSAGEM DE DOM LUIZ CARLOS DIAS SOBRE A CF 2024

MENSAGEM DE DOM LUIZ CARLOS DIAS SOBRE A CF 2024

Por Paulo Neto, Setor de Comunicação

Diante de todas as formações envolvendo os Vicariatos de nossa Diocese sobre a Campanha da Fraternidade de 2024, Dom Luiz Carlos Dias, nosso Bispo Diocesano, preparou um texto que nos ajudará a aprofundar ainda mais o sentido da amizade social e da fraternidade.

Confira na íntegra a Mensagem de Dom Luiz Carlos Dias:

A Campanha da Fraternidade, organizada e proposta pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para toda a Igreja Católica no Brasil, chega à sua 60ª edição. Trata-se de uma grande ação evangelizadora, a promover a comunhão e a ação de conjunto entre todas as Igrejas Particulares, paróquias e expressões eclesiais.

O Espírito Santo suscitou essa ação evangelizadora como auxílio para a caminhada quaresmal dos discípulos de Jesus Cristo, com um tema da conjuntura atual da vida dos brasileiros, no qual são manifestas as consequências do fechamento do ser humano ao projeto de Deus e às necessidades dos semelhantes. E na dinâmica da CF, à luz da Palavra de Deus é lançado o convite à conversão, com o apontamento de ações concretas para a superação de uma realidade geradora de sofrer e morte.

O tema da CF 2024 é: “Fraternidade e Amizade Social”, com o sugestivo lema bíblico: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8). O tema é amplo e abrangente, e se propõe, em sintonia com as palavras do Papa Francisco na Carta Encíclica Fratelli Tutti (Todos Irmãos), de 2020, a fazer ecoar a Boa Nova da “Amizade Social”, enraizada na fraternidade, como remédio para alguns sintomas do nosso tempo, como a polarização, fake news, inimizades, violências etc, com sérias repercussões em nossa vida social.

Dada a virulência facilmente perceptível nessas manifestações sociais da atualidade, a reflexão da CF 2024 o denomina “Síndrome de Caim”, personagem bíblico que não só assassinou o seu irmão, mas permaneceu indiferente ao ato, mesmo quando interrogado por Deus: “Onde está o teu irmão?” (Gn 4,9). E afirma que esses males decorrem do “hiperindividualismo”, caracterizado pelo imperativo da individualidade, agudo processo de subjetivação e consequente fechamento ao outro (cf. CNBB, Texto-Base CF 2024, nn. 68-71). Nesse contexto, infelizmente, cresce a “alterofobia” e a “indiferença” nas relações entre as pessoas, acirrando as dificuldades de convivência numa sociedade com as marcas e feridas da desigualdade, historicamente entranhada nas estruturas sociais deste país.

O Papa Francisco tem alertado acerca da nefasta consequência do individualismo atual: “a cisão entre o indivíduo e a comunidade humana”, resultante do processo da “ausência de um rumo comum” e do aumento da “distância entre a obsessão pelo próprio bem-estar e a felicidade da humanidade partilhada” (cf. Papa Francisco. Carta Encíclica Fratelli Tutti – Sobre a Fraternidade e a Amizade Social, n. 31). E acrescenta: “No mundo atual, esmorecem os sentimentos de pertença à mesma humanidade; e o sonho de construirmos juntos a justiça e a paz, parece uma utopia de outros tempos” (Idem, n. 30).

Diante desse quadro, a fraternidade e a amizade social, propostas na CF 2024, se revestem de contornos desafiadores no contexto atual das relações pessoais, comunitárias e sociais. Não obstante, é preciso atenção a essas palavras exortativas do Papa Francisco: “Sejamos capazes de reagir com um novo sonho de fraternidade e amizade social que não se limita a palavras” (cf. Papa Francisco. Carta Encíclica Fratelli Tutti, in Texto-Base CF 2024, n. 125).

A nossa humanidade não é só pecado e divisão, pela vida morte e ressurreição de Jesus, o ser humano foi resgatado para a lógica da graça e um estilo de vida caracterizado pela comunhão, fraternidade, diálogo e amizade social, elementos inscritos em cada um pelo amor da Santíssima Trindade (cf. Texto-Base CF 2024, n.77). A Nova Aliança, em Jesus, é comunidade na qual todos são irmãos e irmãs, unidos pelo amor de Deus, vínculo fortalecido ao redor de uma mesma mesa, quando se celebra o Sacramento da comunhão.

O lema desta CF: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8), convida a revigorar a consciência de que somos uma única família humana, e não há justificativas plausíveis para a introdução de barreiras políticas ou sociais, nem isolamento, muito menos para a globalização da indiferença (cf. Papa Francisco. Lautado SI, n.52. in Texto-Base CF 2024, n. 74). É preciso vencer a tentação de fazer uma cultura de muros e fechamento, para frear tal “Pandemia Social”.

O tempo presente requer esperançar os corações com a boa nova de que “somos todos irmãos e irmãs”, e “alargar os espaços de nossas tendas” (Is 54,2). O povo brasileiro já oferece um solo fértil para o florescimento da amizade social, com sua propensão natural para a solidariedade diante das tragédias ou quando solicitado em determinadas campanhas. A enorme possibilidade de diálogo e conexão das tecnologias de comunicação devem ser efetivamente colocados ao serviço da cultura do encontro. E é possível enveredar esforços para a integração da rica pluralidade emanada dos seres humanos, assim como avançar na valorização, respeito e integração das diferenças.

A Campanha da Fraternidade é finalizada nas comunidades eclesiais católicas com a Coleta Nacional da Solidariedade, nas missas e celebrações do Domingo de Ramos. Trata-se de um gesto fraterno que estimula a amizade social, pois a arrecadação é destinada a atender projetos sociais, na Diocese ou por meio da CNBB. A coleta da CF atende centenas de projetos de formação relativas ao tema proposto e de geração de renda em comunidades carentes em todo o Brasil.

Promover a fraternidade e a amizade social sempre foi o grande objetivo desta campanha da Igreja no Brasil. Que uma vez mais, a CF contribua para o avanço da sociedade brasileira pela via que a torna mais solidária e pacífica.

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