Diocese São Carlos dez 8, 2017

Dom Paulo Cezar se pronuncia pela primeira vez para autoridades políticas

Colocar o bem particular acima do bem público é uma desfiguração total da política. Uma sociedade democrática não vive sem bons políticos

Por assessoria de comunicação / Foto: Divulgação

Na noite desta quinta-feira, 07, ao receber o título de Cidadão Honorário de Ibitinga, Dom Paulo discursou pela primeira vez diretamente à autoridades civis do Poder Público. Em um discurso pautado na Palavra de Deus, no Magistério e na Doutrina Social da Igreja, Dom Paulo afirmou ser triste assistir a desfiguração da política em nosso País através da corrupção.

“Colocar o bem particular acima do bem público é uma desfiguração total da política. Uma sociedade democrática não vive sem bons políticos. Vocês tem um papel fundamental na condução e promoção do bem público”- afirmou Dom Paulo aos vereadores da Câmara Municipal de Ibitinga. Ressaltou ainda o Bispo que “o exercício do bem comum deve conduzir a pessoa humana a realização da sua vocação de pessoa humana. Deve conduzir a pessoa humana e a sociedade a condições de vida à altura da dignidade humana. Isto deve incluir inclusive os mais pobres e mais necessitados.”

Ao término de seu discurso agradecendo a honraria e destacando que este título o compromete para seguir, como Religioso, realizando e se preocupando com o bem no município. Um desejo que se estende para todas as outras cidades que compreendem a Diocese. Uma vez que é um anseio do Bispo que a Igreja Católica Apostólica Romana seja uma Igreja que promova a paz social e o bem comum. “Desde a minha entrada na nossa Diocese, propus o diálogo como caminho. Quero uma Igreja que dialogue, que cumpra o seu papel na promoção da paz social e do bem comum”- finalizou Dom Paulo.

 

Confira na íntegra o  Discurso de Dom Paulo Cezar na Câmara Municipal de Ibitinga. 

Excelentíssimo Sr. Vereador Presidente da Câmara: Antônio Esmael Alves de Mira;

Excelentíssimo Sr. vereador Marco Antônio da Fonseca, que propôs este título a minha pessoa;

Excelentíssimos vereadores e vereadoras;

Ilustríssimos senhores e senhoras que vieram participar deste momento.

 

Agradeço a honra a mim concedida, o título de cidadão honorário de Ibitinga. Esta honra demonstra o reconhecimento do papel religioso e civil de um bispo, que por misericórdia e amor de Deus, sou eu. Um bispo tem um grande papel religioso, ele é líder da comunidade católica numa região, mas o seu papel vai além, ele tem também uma responsabilidade civil. A história demonstrou isto no decorrer dos séculos: basta citar, o grande bispo que hoje celebramos Santo Ambrósio, São Basilio Magno, São Gregório Magno, e por que não, o padroeiro da nossa Diocese São Carlos Borromeu.  Este, e tantos outros bispos, em momentos difíceis, assumiram o papel e a responsabilidade diante do povo, pois a fé nos impõe esta responsabilidade.

A Igreja não é alheia às realidade terrestres. O concilio Vaticano II diz: ”As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração”. Sim, tudo que é humano toca o coração do discípulo de Cristo.  Assim, todas as realidades humanas afetam o coração de um bispo.

Me encontro numa câmara municipal, uma casa que tem um papel importante na vida de um município. Aqui se fazem as leis, aqui se aprovam contas, aqui se autorizam tantas realidades na vida deste município.  Esta casa tem um papel fundamental na vida e na condução desta cidade.  A Igreja católica, através da sua doutrina social, tem uma visão elevada da vida política. O mesmo concilio Vaticano segundo diz que “a comunidade política existe, portanto, em vista do bem comum; nele encontra a sua completa justificação e significado e dele deriva o seu direito natural e próprio. Quanto ao bem comum, ele compreende o conjunto das condições de vida social que permitem aos indivíduos, famílias e associações alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição”. Sim, o bem comum é o sentido primeiro e fundamental da política. É triste, o que temos assistido no Brasil hoje, esta desfiguração da Política através da corrupção. Colocar o bem particular acima do bem público é uma desfiguração total da política.  Uma sociedade democrática não vive sem bons políticos. Vocês tem um papel fundamental na condução e promoção do bem público.

O exercício do bem comum deve conduzir a pessoa humana a realização da sua vocação de pessoa humana. Deve conduzir a pessoa humana e a sociedade a condições de vida à altura da dignidade humana. Isto deve incluir inclusive os mais pobres e mais necessitados. O Grande Pensador Romano Guardine coloca como critério para julgar uma época “a realização do ser humano naquela referida época”.

A realização do bem comum exige a capacidade de diálogo. Papa Francisco propõe o diálogo como um elemento fundamental para a resolução dos conflitos sociais. Diz ele: “O caminho e o futuro da nossa sociedade se encontra no diálogo”. O diálogo exige respeito, a valorização do outro, uma visão alta do outro e das instituições. Dialogar significa ter a disposição de encontrar a todos, sem distinção de cor, credo e condição social, implica encontrar os diferentes ambientes e mundos desta nossa região. Como é importante o diálogo no caminho da sociedade e da Igreja hoje. É através do diálogo que a sociedade cresce, se encaminham soluções para os grandes e pequenos problemas sociais. O diálogo parte da condição de que somos seres pensantes: “onde existem pessoas pensantes, ali há as condições para o diálogo”.

Outra grande questão que toca a vida da sociedade hoje, e que pede a atenção de todos nós, é a questão ecológica, o cuidado com a nossa casa comum. Papa Francisco escreveu aquele famoso texto: Laudato Si. Ele  nos alerta para a urgência da preservação da nossa casa comum, o planeta.  O ser humano é um ser relacional, ele foi criado para relações. A bíblia fala de três relações fundamentais intimamente ligadas: as relações com Deus, com o próximo e com a terra. Segundo a Bíblia, estas três relações vitais romperam-se não só exteriormente, mas também dentro de nós. Esta ruptura é o pecado. A harmonia entre o Criador, a humanidade e toda a criação foi destruída por termos pretendido ocupar o lugar de Deus, recusando reconhecer-nos como criaturas limitadas. Este fato distorceu também a natureza do mandato de «dominar» a terra (cf. Gn 1, 28) e de a «cultivar e guardar» (cf. Gn 2, 15). Como resultado, a relação originariamente harmoniosa entre o ser humano e a natureza transformou-se num conflito (cf. Gn 3, 17-19). Por isso, é significativo que a harmonia vivida por São Francisco de Assis com toda a criação tenha sido interpretada como uma sanação daquela ruptura. São Francisco olha para toda a realidade e a vê como parte de si. Ele nos convida a termos uma visão integral diante da criação: a cuidar e guardar a criação. O filósofo Hans Jonas fala do principio responsabilidade. É o imperativo de vivermos hoje, com responsabilidade de forma a garantirmos a vida ás futuras gerações. A preservação da nossa casa comum é missão de todos nós.

A realização do bem comum deve conduzir a este rico diálogo entre política, religiões, esporte, cultura, etc, enfim diálogo que envolve os diversos segmentos da sociedade. A sociedade ganha e cresce quando este diálogo flui.

Por isso agradeço a esta casa pelo reconhecimento do meu trabalho como bispo da nossa Diocese de São Carlos, da qual a nossa amada cidade de Ibitinga faz parte. Este título me compromete mais ainda com o meu dever religioso e também civil diante do bem desta cidade. Desde a minha entrada na nossa Diocese, propus o diálogo como caminho. Quero uma Igreja que dialogue, que cumpra o seu papel na promoção da paz social e do bem comum.

De coração, muito obrigado a todas e todos.

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