Diocese São Carlos out 1, 2025

Outubro: “Igreja em Saída” – Mês das Missões

Outubro: “Igreja em Saída” – Mês das Missões

(Dom Luiz Carlos Dias)

O mês de outubro é dedicado de modo especial às Santas Missões, porque é neste tempo que celebramos a Jornada Missionária Mundial, instituída pelo Papa Pio XI em 1926. Desde então, a Igreja convida os fiéis a rezarem, meditarem e se comprometerem mais profundamente com a obra evangelizadora, sustentando espiritualmente e materialmente os missionários que levam o Evangelho aos confins da terra. As missões não são um aspecto secundário da vida da Igreja, mas sua própria natureza. São João Paulo II, na encíclica Redemptoris Missio, afirmou com vigor: “A missão de Cristo Redentor, confiada à Igreja, está ainda bem longe da sua plena realização. Um olhar de conjunto sobre a humanidade demonstra que tal missão está ainda em seu início e que devemos empenhar-nos com todas as forças no seu serviço” [1].

Toda ação missionária nasce da própria identidade da Igreja. Como recordou Bento XVI: “A missão não é uma opção, mas um dever que deriva da própria natureza da Igreja. A missão é fruto da sua identidade: ela existe para evangelizar” [2]. Por isso, outubro é um mês de apelo à consciência cristã: recordar que a Igreja não vive para si mesma, mas para anunciar a Boa-Nova da salvação, em obediência ao mandato do Senhor: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15).

Desde os primeiros séculos, a Igreja entendeu sua vocação missionária como prolongamento da missão de Cristo. Entretanto, a partir do século XIX, diante da secularização, os Papas intensificaram seus apelos em favor das missões. O Magistério Ordinário, já em 1880 (Sancta Dei Civitas), já apontava para a necessidade de reforçar o ardor missionário, recordando que a Igreja é chamada a “iluminar os povos que jazem nas trevas e na sombra da morte” [3]. Mais tarde, Pio XI instituiu o Dia Mundial das Missões para despertar no povo cristão a consciência de que a evangelização é responsabilidade de todos.

São João Paulo II, por sua vez, proclamou repetidas vezes que “a missão renova a Igreja, revigora a fé e a identidade cristã, dá novo entusiasmo e motivações. A fé fortalece-se dando-a!” [4]. Celebrar outubro como mês missionário é renovar o convite a cada batizado para que redescubra sua vocação apostólica. Não se trata somente de apoiar missionários em terras distantes, mas de assumir, em cada comunidade, a postura de quem anuncia Cristo com a vida e com a palavra.

O Papa Bento XVI ensinava que “quem encontrou Cristo não pode guardá-lo para si; deve anunciá-lo” [5]. Este é o núcleo de toda espiritualidade missionária: anunciar Cristo, único Salvador, com humildade e coragem, com oração e testemunho. O Papa Francisco, em continuidade com o Magistério missionário de seus predecessores, recorda com força que “[…] a causa missionária deve ser (…) a primeira de todas as causas […] e a ação missionária é o paradigma de toda a obra da Igreja.” [6]. A missionariedade não é um adorno ou uma atividade entre tantas, mas o fundamento mesmo da identidade eclesial. Em sua leitura – aberta aos sinais do tempo presente – “a Igreja existe para evangelizar” [7], e só se realiza plenamente quando sai de si para anunciar o Senhor Jesus Cristo. A fé, se não se torna anúncio, enfraquece; por isso, a missão é a própria respiração da Igreja.

Nesse horizonte, Francisco convida a uma “Igreja em saída”, que rompe com a tentação da autorreferencialidade: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e pela comodidade de se agarrar às próprias seguranças” [8]. Esta imagem forte revela o espírito missionário que deve animar todo batizado: não basta simplesmente conservar a fé como se fosse um arteafto de museu. Antes, é preciso levá-la ao encontro das periferias geográficas e existenciais, onde tantos esperam um sinal de esperança.

 

A missionariedade, deste modo compreendida, renova a Igreja e a mantém fiel ao seu Senhor. Como insiste Francisco: “Cada cristão é missionário na medida em que encontrou o amor de Deus em Cristo Jesus” [9]. Não se trata de um convite opcional, mas de um chamado que nasce do Batismo. Uma Igreja que se fecha em si mesma adoece; ao contrário, uma Igreja que se abre à missão experimenta a força do Espírito Santo que a conduz. Por isso, viver outubro missionário, à luz do Papa Francisco, é redescobrir a beleza e a urgência de sermos todos discípulos missionários. Assim, desejamos que este mês seja, para toda a Igreja, tempo de renovação missionária. Que cada fiel, cada comunidade, cada pastoral e cada movimento recordem que a missão é dever, privilégio e fonte de santificação. Que o ardor missionário, sustentado pela oração e pelo testemunho, continue a inflamar a Igreja, como no início da sua história.

 

 

[1] JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio, n. 1.

[2] BENTO XVI. Mensagem para o Dia Mundial das Missões, 2006.

[3] LEÃO XIII. Sancta Dei Civitas, 1880.

[4] JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio, n. 2.

[5] BENTO XVI. Homilia na Missa de envio da JMJ, Colônia, 2005.

[6] FRANCISCO. Evangelii Gaudium, n. 15.

[7] FRANCISCO. Evangelii Gaudium, n. 14.

[8] FRANCISCO. Evangelii Gaudium, n. 48.

[9] FRANCISCO. Evangelii Gaudium, n. 120.

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