Diocese São Carlos abr 9, 2015

Número de diáconos permanentes cresce mais do que o de padres no Brasil

Número de diáconos permanentes cresce mais do que o de padres no Brasil

“Naqueles dias, crescendo o número de discípulos, os judeus de fala grega queixavam-se entre eles dos judeus de fala hebraica. Suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária de alimentos. Por isso, os doze apóstolos reuniram todos os discípulos e disseram: Não é certo negligenciarmos o ministério da palavra de Deus a fim de servir às mesas. Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom coração, cheios de espírito e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos dedicaremos à oração e ao ministério da palavra.”

Escrito em 60 d. C pelo apóstolo Lucas, o trecho bíblico (Atos 6) mostra o momento exato em que os diáconos surgiram no cristianismo. E para que vieram. Os homens de bom coração, cheios de espírito e de sabedoria tinham a função primordial de poupar os apóstolos das tarefas práticas a fim de deixá-los com tempo livre para divulgar a palavra de Deus. A colaboração foi fundamental para a expansão da fé católica nos primórdios do cristianismo.

Com o passar dos anos, porém, a Igreja foi mudando de perfil e passou a valorizar menos o serviço e mais o culto divino. Dessa forma, os diáconos foram pouco a pouco perdendo importância. Nos últimos anos, no entanto, esses operários da Igreja vêm conquistando mais e mais espaço.O último censo coordenado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e realizado pela empresa Promocat Marketing Integrado, mostrou que entre 2004 e 2014 o número de diáconos cresceu 116% – um aumento três vezes superior ao de padres no mesmo período. Nunca se havia visto uma diferença tão grande.

O caminho para uma participação mais efetiva dos diáconos foi aberto com o Concílio Vaticano II (1962-1965), a assembleia religiosa que se configurou como um marco na modernização da Igreja. A proposta central do Concílio, a de abrir as portas da Igreja para dialogar com o mundo, era totalmente coerente com a valorização de uma figura que surgiu no cristianismo com o papel de cuidar dos fieis por meio de atitudes práticas. As regras para a ordenação do diaconato entraram então para o Código Canônico, promulgado pelo papa João Paulo II nos anos 80.

Hoje, os diáconos atuam tanto nos serviços litúrgicos, como pastorais. Eles podem exercer quase todas as funções de um padre. Batizam, celebram casamentos. Pertencem ao clero. Respondem ao bispo. Usam batina. Mas têm um trabalho fora da igreja e podem casar. “A vocação do diácono não exige uma renúncia radical, como a dos padres”, diz a teóloga Jaci de Fátima Souza Candiotto, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. O diácono só é aceito na Igreja com a total concordância da mulher -uma autorização por escrito, de próprio punho.

A formação acadêmica dos diáconos é rigorosa, mas mais simples do que a dos padres – e, consequentemente, menos onerosa para a Igreja. O diácono deve ser formado em teologia. O padre, também em filosofia. “Os seminaristas normalmente vivem como alunos internos. Já os diáconos continuam morando com a família, exercendo sua profissão”, diz o padre Antônio José de Almeida, professor de teologia da PUC do Paraná. Há diáconos das mais diversas profissões – advogados, juízes, professores, empresários… O trabalho na Igreja é voluntário.

As semelhanças nas funções entre as duas vocações ainda podem causar alguns constrangimentos. “Apesar do espaço que conquistamos nas igrejas, para muitos leigos ainda somos uma figura não totalmente conhecida”, diz o diácono Melquisedec Ferreira da Rocha, do Rio de Janeiro. “Para não provocar qualquer constrangimento, não uso o clérgima (colarinho clerical) quando estou com minha mulher”.

Há sacramentos que os diáconos não podem assumir, como a celebração da missa e a unção dos enfermos. Trata-se de uma prerrogativa dos padres, por uma questão de tradição bíblica. Há ainda outra grande diferença entre o diácono e o padre – o trabalho pastoral. Os diáconos, até por uma questão de disponibilidade, dedicam os fins de semana às visitas nas comunidades. Levam a palavra de Deus, confortam e acolhem o fiel. Distribuem suprimentos. Eles representam o que o papa Francisco defende em seu pontificado – o de que a Igreja vá para as ruas e bata na porta do fiel.

Fonte: catholicus.org


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